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Maria Alice da Silva Martins: "Receber o pão antes de ir trabalhar para começar bem o dia com uma iguaria quentinha é um regalo que conforta a alma e aconchega o coração”.

Oliveira de Azeméis

Maria Alice da Silva Martins tem 53 anos de idade e é padeira há 25 anos. É um dos poucos casos de padeiras em Ul que não recebeu a arte do pão como herança, embora tenha algumas pessoas na família que são padeiras. Aprendeu a profissão com sete anos em casa de uma vizinha padeira que, entretanto, já faleceu e que tinha um neto com quem Alice Martins gostava de brincar.

De tanto tempo passar no ambiente da padaria, começou “a achar graça ao processo de fabricar o pão”. Na verdade, a partir de certa altura, com o pretexto de ir brincar com o menino, Alice Martins queria era trabalhar no pão e aprender o máximo com as padeiras mais velhas.

 “Quando chegava da escola ia direta para lá”, explica com entusiasmo. Como ainda era criança, a vizinha tinha que colocar uma «quarta» (caixa de madeira utilizada para medir a farinha, correspondente à quarta-parte do alqueire) no chão para Alice Martins poder chegar aos tabuleiros e conseguir tender o pão.

Estudou até ao 6º ano de escolaridade e, aos 13 anos, foi trabalhar como gaspeadeira sem, no entanto, ter perdido o gosto pelo pão. “Era gaspeadeira de segunda a sexta-feira e ao fim-de-semana era padeira”, refere Alice Martins. Durante muitos anos conseguiu conciliar os dois ofícios. Entretanto, deixou de ser gaspeadeira para trabalhar no pão a tempo inteiro. Quando tomou esta decisão já sabia trabalhar com habilidade em todas as etapas do pão.

Casou jovem e teve uma filha que tem atualmente 28 anos de idade, já formada, que, naturalmente, fez carreira na sua área de estudos. Quando construiu casa fez a sua padaria para trabalhar. O marido é sapateiro, mas ajuda-a na padaria durante a semana, antes de ir para o trabalho, e ainda aos sábados.

Antigamente cozia todos os dias e parava só uma semana em agosto para reparar o lar do forno. Depois, optou por parar no dia de Natal e no dia de Ano Novo para poder conviver com a sua família.

Chegou a ter uma venda em Oliveira de Azeméis, ao domingo, que ficava à responsabilidade da sua mãe e da filha. Quando a filha se formou, há seis anos, fechou a venda e para além das férias em agosto decidiu começar a tirar folga ao domingo para descansar e retemperar energias porque “a idade vai trazendo consigo algum cansaço”.

Levanta-se às três horas da madrugada e coze uma média de 300 padas por dia. À segunda-feira coze as padinhas de Ul que todos conhecem, à terça e quarta-feira coze pão normal e pão com sementes, à quinta-feira coze pão normal e pão com chouriço e, finalmente, à sexta-feira e ao sábado coze pão e regueifas de Ul. Vai variando para o cliente não se cansar e poder ir experimentando outros sabores e misturas.

A padaria implica uma grande responsabilidade porque o cliente é certo e passa sempre à mesma hora para levar o pão quentinho para o pequeno almoço e a merenda da manhã. “Levantar cedo é o mais complicado”, refere Alice Martins, principalmente no Verão, porque os dias são maiores, trabalha-se até mais tarde nas tarefas domésticas, no quintal e no jardim, janta-se mais tarde e prolonga-se a hora de ir deitar. Já no inverno, a noite cai mais cedo e isso permite recolher-se mais cedo também.

Principalmente quem coze sozinho, sem pessoas a ajudar, tem que ter um elevado grau de compromisso com o serviço, a profissão não permite ceder a indisposições, a dores de cabeça ou a outros problemas, porque não há quem substitua o seu trabalho e o pão é o seu meio de subsistência. “Se falharem os clientes é menos esse dinheiro que entra”, refere.

No entanto, a maior parte das padeiras de Ul também apresentam a comodidade de trabalharem na própria casa, não têm patrões, nem encarregados, nem colegas de trabalho com quem se possam aborrecer. Segundo Alice Martins, “quando as coisas correm mal, não há outra saída senão chatear-se consigo própria, chatear-se com os ingredientes ou chatear-se com o forno, com a grande vantagem de que eles não respondem, e ainda bem!”.

Tem clientes à porta e faz a distribuição de pão no Cerro (Ul), Macinhata da Seixa, Oliveira de Azeméis e Santiago de Riba-Ul. A maior parte dos seus clientes já são muito antigos, compram-lhe o pão desde que ela começou a atividade por conta própria. Não faz restaurantes porque estes estão abertos ao domingo e trabalham com padeiras que cozem todos os dias. Como não coze ao domingo, Alice Martins diz que é necessário fazer escolhas, ora opta pelo trabalho, ora opta pela família, porque “não se pode ter o melhor de dois mundos…”

Alice Martins gosta de servir bem o cliente porque também ela é consumidora e gosta do melhor, logo, o cliente merece este respeito. Os clientes são já seus amigos, são família. É uma história de muitos anos a acompanhar as mesmas famílias.

O pão de Ul, sendo um produto artesanal que não leva químicos, nem sempre sai bem. “Há dias em que o trabalho não corre tão bem, o trigo não ajuda, o fermento não ajuda, o tempo não ajuda”, esclarece Alice Martins. No fundo, é a matéria-prima que manda. Só que os clientes, como ligam essencialmente ao aspeto, reclamam logo quando o pão não tem a apresentação a que estão habituados, ainda que o sabor não tenha sofrido grandes alterações.

Alice Martins nunca fez feiras, nem mercados, mas chegou a fazer as festas em honra de Nossa Senhora de La Salette, a Senhora da Saúde, o São Brás e o Mercado à Moda Antiga. Recorda-se dos tempos em que a sua mãe saía de madrugada às cinco da manhã para a Senhora da Saúde, acompanhada por uma cunhada, para ir vender o seu pão, porque as festas começavam cedo e era preciso arranjar local e preparar a venda. Já em relação ao São Brás diz que “é dia de trabalhar muito e dormir pouco”.

Alice Martins descreve com nostalgia que “as festas antigamente não eram nada que se compare aos tempos atuais”. Lembra-se que não havia sítio onde pôr as toalhas das merendas. Já hoje, “a malta nova não quer andar com o farnel às costas”.

Gostava de ver o pão de Ul qualificado para proteger a identidade da região e a autenticidade deste produto tradicional. É a favor da qualificação e da fiscalização para garantir a melhor qualidade possível e salvaguardar que as técnicas ancestrais de fabrico do pão de Ul são preservadas com a utilização de ingredientes sem aditivos ou químicos.

Alice Martins refere que “o pão traz muita gente a Oliveira de Azeméis e que é um excelente cartão de visita”.

Há muitas pessoas do concelho que foram para o estrangeiro viver e trabalhar e que, ao regressarem, têm saudades das memórias antigas e de ver fazer o pão.

Também chegam a Ul muitas pessoas de fora, do Porto, de Gaia, de Matosinhos, da Póvoa do Varzim, de Viana do Castelo e de tantos outros locais que ficam maravilhadas com o pão de Ul, que elogiam a sua qualidade e divulgam a nossa arte por todo o país. “No fundo, quem está longe do pão dá ainda mais valor”, aponta Alice Martins.

Já os oliveirenses e o povo de Ul são privilegiados por poderem levar à mesa, todos os dias, o pão de Ul fresco e quentinho, uma sorte que, hoje em dia, já poucas pessoas que moram nos centros urbanos têm.

Receber o pão antes de ir trabalhar para começar bem o dia logo pela manhã, com uma iguaria quentinha, acabada de sair do forno e ainda com o cheiro a lenha, que eleva o sabor caseiro e genuíno é, segundo Alice Martins, “uma bênção e um regalo que conforta a alma e aconchega o coração”.

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