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Maria Fernanda Soares Santiago: “Durante 49 anos vendi o pão, aos domingos, à porta da Igreja de Nogueira do Cravo. Guardo um carinho imenso pelos nogueirenses, porque me encheram sempre o coração de carinho e amizade".

Oliveira de Azeméis

Para falar da história familiar de Fernanda Santiago, de 71 anos, padeira de Ul, é preciso recuar dois séculos, ao tempo dos seus bisavós, padeiros e moleiros, e do seu tio Amaro, que vendia o pão de «cangalhas» aos ombros, não o pão que hoje conhecemos, mas sim os canocos, feitos com uma farinha escura, chamada cabecinha, que sai do rolão depois de passado por uma peneira larga.

Era no tempo em que a farinha era peneirada à mão, sobre uma amassadeira com tampa. A farinha era colocada nas peneiras e as padeiras, com movimentos circulares, iam sacudindo e batendo a farinha, de um lado para o outro que, assim, passava através da entrançada rede, caindo sobre a masseira.

O farelo que ficava dentro da peneira ia sendo colocado num recipiente à parte. Após concluída esta primeira fase e peneirada toda a farinha, seguia-se a próxima, que era a de peneirar o próprio farelo, a fim de o separar do rolão que era então usado para os canocos.

As suas avós também foram padeiras, assim como grande parte das suas filhas, incluindo a mãe de Fernanda Santiago. A avó materna teve 17 filhos e a avó paterna teve 15 filhos e, muitos dos seus descendentes, foram padeiras e padeiros.

Já o pai era moleiro e recorda que tanto ela como a sua única irmã, mais velha três anos, adoravam acompanhar o pai de noite para ir «guardar a água das regas». Como o pai tinha moinhos, também tinha terras com direito a rega da água do rio. O pai levava uma enxada às costas para ir vigiar as águas, para ninguém a poder cortar ou desviar, e as duas irmãs adoravam acompanhá-lo, à vez, nesta tarefa de tanta aventura.

Fernanda Santiago conta que o pai teve dois moinhos com quatro mós e um burro com o qual distribuía a farinha pelas padeiras da freguesia e relembra que, tanto ela como a irmã, foram obrigadas a picar as pedras dos moinhos do pai com os picões, a colocar o grão na moega e a encher os sacos de farinha, que naquela altura levavam 50 kg.

Começou a trabalhar ainda menina, em cima de um alqueire (caixa de madeira para medir cereais) para conseguir chegar ao forno. Com 9 anos aprendeu a trabalhar com os fornos. Tanto ela como a irmã, estudaram até à quarta classe e fizeram o exame de admissão, na Feira dos 11, mas não puderam prosseguir estudos porque, naquele tempo, o trabalho era o caminho a seguir pelas crianças depois de terminado o ensino primário.

Fernanda Santiago explica que, na padaria de casa, o pai era o principal «amassadeiro» porque tinha mais força e conseguia amassar sacos de 50 kg de farinha, enquanto a mãe era a «forneira», já que ninguém conseguia colocar ao forno com a sua mestria. Apesar de se cozer muito pão, não era nada que se compare aos dias de hoje.

No tempo dos avós e dos pais vendia-se o pão para as feiras dos 9 e dos 23, em Vale de Cambra, para a Feira dos 4, em Arrifana, para os 18, em Cesar e para a Feira dos 27, em Nogueira do Cravo. A família também marcava presença na Festa de Nossa Senhora do Desterro, em Arada e na Festa de Santa Luzia, em Cucujães, nas quais, outrora, se vendia muito pão de Ul. Finalmente, não faltavam ao São Brás, para onde se deslocavam logo às cinco horas da madrugada, em fila indiana, para reservar o espaço com uma mesa, já que todas as padeiras concorriam para garantir os melhores lugares de venda.

Recorda-se que, para Vale de Cambra, se faziam muito as «carreiras», um conjunto de quatro pães unidos que, ainda hoje, são muito requisitados no Natal para fazer as rabanadas. Vendiam-se a 25 tostões (dois escudos e cinquenta centavos). Esse pão, ao contrário das padas, não levava farinha por cima, antes de entrar ao forno, era um pão maior e mais liso, sem os mesmos raiados das padas de Ul que, para ficarem estriadas, são viradas ao contrário ao serem colocadas na pá, adquirindo as texturas do pano.

Fernanda Santiago casou com 18 anos, teve dois filhos e tem três netos. O seu casamento foi celebrado pelo Padre António Fonseca, que também a batizou e lhe fez as comunhões. Recorda o Padre Fonseca como o pai das padeiras de Ul, que em conjunto com o Dr. Albino Soares dos Reis, de quem era amigo, tudo fizeram para proteger a profissão, numa altura em que a fiscalização queria acabar com a atividade não legalizada.

“Se não fosse o Padre António Fonseca, não havia padeiras, porque quem não tivesse alvará não podia cozer”, explica Fernanda Santiago. Recorda um episódio em que a fiscalização se preparava para intervir junto dos arrozeiros de Ul e o Padre Fonseca mandou tocar os sinos da igreja a repique, chamando o povo ao largo que, com atos de bravura, obrigou os fiscais a fugir da freguesia.  

“Naquele tempo não era como agora, quem não tivesse as coisas em ordem tinha que andar fugido como se andasse a roubar, quando na verdade, trabalhávamos para o nosso sustento. Perseguiam-nos a cavalo por todo o lado, não havia multas, tiravam-nos o que tínhamos para vender”, lamenta Fernanda Santiago.  

Em nova, cozia o pão durante toda a noite, ia vendê-lo de manhã, e já casada, mas ainda antes de ter carro, ia com a canastra à cabeça e levava o filho com sete meses numa ilharga de lado na anca, até Travanca, ao encontro da sogra que vinha de Macinhata da Seixa buscar o menino para tomar conta dele, uma vez que Fernanda Santiago teria que prosseguir caminho para Palmaz.

Quando casou começou por vender em Ferreiros e Palmaz. Entretanto, a irmã ficou com esta venda e Fernanda Santiago optou por ir vender para Nogueira do Cravo, desde a entrada norte até à fronteira com Cesar, onde vendia no portão do campo de futebol do cesarense, passando ainda por S. Roque, freguesia na qual encontrou bons clientes, que se mantiveram até aos dias de hoje.

Aos domingos, Fernanda Santiago vendia pão à porta da Igreja de Nogueira do Cravo, costume que fez parte da sua vida durante 49 anos. Guarda, por isso, o maior carinho pelos nogueirenses que descreve como pessoas humildes, amigas, que lhe encheram sempre o coração de carinho e amizade, “um povo abençoado”.

Explica que chegava a vender mais de 700 padas de pão à saída da missa. As pessoas faziam uma fila enorme, uma vez que todas adoravam o seu pão, até o Padre Pedro, que sempre a procurava depois da celebração. “Ganhei uma amizade inesquecível com a freguesia”, refere enternecida Fernanda Santiago.

Os clientes eram mais do que família, davam-lhe o dinheiro a ganhar e tinham sempre uma palavra para perguntar se precisava de alguma coisa, ao mesmo tempo que tantas vezes lhe mandaram o almoço, tendo em conta o tardio da hora de regressar a casa.

Todos os dias se levanta à uma da madrugada e coze até cerca das 11 horas, arruma a padaria e deixa um molho de lenha dentro do forno a secar para a lida do dia seguinte. “O patrão não dá folgas”, explica Fernanda Santiago, mas “toda a mãe ajuda um filho”.

Nos tabuleiros, Fernanda Santiago usa estopa de linho, um tecido de trama fechada e resistente, com aspeto rústico.  Depois de colocados no tabuleiro, os pães são envoltos em farinha e tapados com um lençol branco. Põe água nos pãezinhos antes de os unir em padas, porque este truque as ajuda a ficarem inteiras no forno. Findo o processo, alinham-se quatro padinhas na pá retangular e pronto o forno, são colocadas a cozer.

Explica que ser padeiro é principalmente ser padeiro de forno, já que esta é a tarefa mais dura, mais exigente e que requer saber, destreza e, acima de tudo, muita prática. Fernanda Santiago confidencia que o filho será um dia herdeiro da velha casa dos avós e que gostaria que ele pudesse fazer obras para modernizar o espaço, mas sem deitar abaixo o antigo forno da sua mãe, cujas pedras negras têm sido as testemunhas do melhor pão d’Ul que o povo pode provar.

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