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Maria da Graça Nunes Marques Moreira: "Um dia gostava de ganhar um prémio com o meu pão, não gostava de morrer sem ver o meu pão premiado. Sou uma padeira que gosto do que faço, sou muito dedicada e muito feliz".

Oliveira de Azeméis

Graça Moreira tem 57 anos e é padeira de Ul desde criança, por herança das bisavós, avós e da mãe que foram padeiras toda a vida.

Antigamente, para as mulheres de Ul, por tradição secular, a única maneira de ganhar sustento era ir vender o pão de Ul e as regueifas de canela para as feiras. Desde sempre se lembra de ver a mãe montar a venda nas feiras dos 9 e dos 23, em Vale de Cambra, que nessa altura distante, reuniam dezenas de padeiras a vender o pão com as suas canastras.

Já Graça Moreira, bem como a irmã, que sempre a acompanhou, cresceram a trabalhar e a ajudar as mais velhas porque, para além do pão, a mãe também vendia bolos que aprendeu a fazer em Entre-os-Rios. Vendia bolos de gema, cavacas, doces de chocolate, perinhas (uma espécie de bolos de coco em forma de pera) e regueifas de canela. Nessa altura as feiras tinham muita gente, recebiam muitos visitantes.

“Começávamos a fazer bolos à sexta para vender ao domingo”, relembra Graça Moreira. “Eu e a minha irmã eramos pequenitas e a minha mãe deixava-nos com um tabuleiro de doces para vender numa festa e ela ia para outra festa com mais um carregamento. Recordo-me que, como não tínhamos nada para comer ao almoço, comíamos bolos e comprávamos um «Sumol» e lá ficávamos as duas até à hora de nos virem buscar”.

Onde havia festa, a mãe marcava presença: na Festa de Figueiredo, em Besteiros, na festa da Senhora da Mó, em Palmaz, no S. Mateus, em Madail, na Senhora do Socorro, em Albergaria-a-Velha e, claro, está, no São Brás e na Festa de Adães, em Ul.

A mãe também vendia regueifas aos domingos, à porta do hospital de Oliveira de Azeméis, com o objetivo de angariar clientes nas visitas aos doentes, mas também nos jogos de futebol que se disputavam logo ali ao lado, no estádio Carlos Osório.  “Os clientes conheciam os doces da minha mãe, que eram sempre fresquinhos e andavam sempre à procura dela”, refere Graça Moreira.

Não tem muitas saudades da infância porque não tinha tempo para brincar, tanto ela como a irmã eram precisas para ajudar na padaria e para ir apanhar lenha nos montes, quando havia os cortes dos eucaliptos.

“Era um tipo de lenha diferente da que hoje se utiliza, fazia muito fumo. Às vezes, as padeiras até queimavam o cabelo, porque a lenha ardia demasiado rápido e lançava umas lufadas que faziam arder tudo o que encontravam pelo caminho”, explica Graça Moreira.

No entanto, recorda a infância com felicidade, apesar do trabalho. “Crescíamos soltos, gozámos de muita liberdade e os nossos avós é como se fossem nossos pais”, descreve Graça Moreira.

Graça Moreira revive os tempos em que ia vender o pão porta-a-porta, de manhã, por Travanca, até à hora da avó a ir buscar para almoçar, uma vez que tinha aulas de tarde na escola primária. Também se lembra dos avós anunciarem a chegada do comboio “Já aí vem o comboio!”, para as meninas correrem com as canastras até à estação de Ul e enviarem o pão «na automotora» até ao seu destino.

Graça Moreira conta que o avô as levava muitas vezes à pesca e, como não tinha carro, a viagem era feita numa florett, uma das irmãs viajava à frente, no depósito, e a outra na parte de trás do assento. “Parece que ainda ouço o meu avô dizer: Vocês não caiam, agarrem-se bem”, cita Graça Moreira.

Já o pai era caçador e lembra-se de ser ela e a irmã a ter que encher as cartucheiras, às sextas feiras, para o pai partir para o Alentejo à caça. Colocavam a pólvora, as buchas e ficavam a ver o pai partir.  Quando chegava passado um ou dois dias, as filhas corriam a recebê-lo para contar o número de coelhos que traziam amarrados às cartucheiras. “Tempos felizes”, diz Graça Moreira com saudades.

Estudou até à quarta classe, uma vez que os pais não a deixaram prosseguir estudos para o ciclo preparatório, apesar dos esforços da professora Margarida, de Estarreja, que encontrava em Graça Moreira muitas capacidades para poder levar mais longe o percurso escolar.

Casou com 22 anos de idade e aos 24 já tinham nascido os seus dois filhos a quem proporcionou estudos para poderem ter outro tipo de oportunidades. A filha frequentou o ensino superior e, atualmente, é enfermeira.

Já o filho trabalha consigo na padaria e ajuda o pai na distribuição, para além de já saber todo um conjunto de procedimentos ligados ao fabrico do pão. Graça Moreira não sabe se o filho irá dar continuidade ao ofício do pão, mas faz questão de o ir ensinando e a sua própria experiência de vida conta-lhe que o tempo será o melhor mestre, para que um dia ele possa optar por ficar com esta profissão e ser um excelente padeiro, se assim o entender.

No seu dia a dia, Graça Moreira levanta-se às três horas da manhã e trabalha na padaria até cerca das dez horas e trinta minutos. Já ao fim de semana os horários são mais flexíveis e, consoante as encomendas, levanta-se às duas horas da madrugada e prossegue até ao meio dia ou uma hora da tarde, para não deixar ninguém ficar mal. Não folga, trabalha de domingo a domingo. Só para no dia de Natal e no dia de Ano Novo. Nunca tira férias, o trabalho para si é lei.

O primeiro cliente da manhã, logo por volta das seis horas, são os Bombeiros Voluntários de Oliveira de Azeméis, para que o pão chegue à hora do despertar, fresquinho e acabado de cozer. Ainda tem uma cliente de fim-de-semana, em Damonde, que lhe compra o pão para o revender de canastra à cabeça, de porta em porta.

Os seus clientes englobam, essencialmente, estabelecimentos escolares, churrasqueiras, supermercados e a venda porta-a-porta a partir das seis horas da manhã. Abrange o concelho de Oliveira de Azeméis, concretamente, as freguesias de Oliveira de Azeméis, Santiago de Riba-Ul, Cucujães, S. Roque, Nogueira do Cravo e Ossela, mas também o concelho de Vale de Cambra, incluindo a freguesia de Castelões, lugar de Baralhas e, ao domingo, também coze para o restaurante da Senhora da Saúde.

Graça Moreira explica que estima muito todos os seus clientes, porque são sérios e cumpridores, muitos deles, clientes que a acompanham já há muitos anos. “Às vezes esqueço de mandar a conta, mas eles fazem-me chegar o dinheiro na mesma”, afirma Graça Moreira.

Reconhece que trabalha imenso, principalmente aos fins de semana, em que o tabuleiro depressa fica vazio e tem que cozer mais do que previsto para o marido não falhar as encomendas. É uma profissão exigente pelos horários, pela falta de dias de descanso, pela responsabilidade que implica. Para além do trabalho contínuo durante a noite, quando os fornos param é preciso limpar toda a padaria, as máquinas, os tabuleiros e restantes utensílios, e é necessário encher o forno de lenha novamente, para que fique a secar até à madrugada seguinte e, assim, arder mais rápido.

Graça Moreira sabe que basta que o forno esteja frio para não cozer o pão. “Vamos aprendendo com nós próprias. Quando estou a tender tenho um olho aqui e outro olho no forno, para ele não me falhar”, refere Graça Moreira.

De resto, considera que o pão não tem segredos. Coze como a mãe a ensinou: tudo se baseia numa mistura simples de farinha, sal, fermento e água e o restante depende do trabalho de mãos, porque cada padeira faz o pão à sua maneira.

No entanto, reconhece que a qualidade da farinha tem grande influência no pão, porque há farinhas que «derretem» o pão, exigindo uma outra maneira de trabalhar, arte que só a experiência é que ensina. “Tem que se fazer a massa mais dura para o pão não perder qualidade, às vezes é necessário diminuir no sal, colocar a água um bocadinho mais fria para o pão sair igual ao de sempre”, explicita Graça Moreira.

Graça Moreira gosta tanto de cozer o pão que, em género de confidência, refere que um dia gostava de ganhar um prémio com o seu pão, diz que não gostaria de morrer sem ver o seu pão premiado. “Tenho um cliente que uma vez me disse que se nota mesmo que sou uma padeira que gosto do que faço, que sou muito dedicada e é verdade. Sou feliz, muito feliz”, declara Graça Moreira.

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