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Margarida Gomes Correia Rocha: “A amizade que os clientes têm por nós é muito gratificante. Gostamos deles como se fossem da nossa família”.

Oliveira de Azeméis

Margarida Rocha tem 66 anos, é natural de Arrifana, Santa Maria da Feira, mas veio para Ul há 43 anos, na sequência do matrimónio. Vive na Rua da Barreta, em Ul, numa casa que era da sogra. Foi, de resto, por influência da sogra que iniciou o fabrico do pão, que aprendeu através de uma padeira mais velha que lhe transmitiu o saber, procurada pela sogra especificamente para lhe ensinar a arte do pão de Ul. É padeira há 36 anos mas conheceu outras profissões: trabalhou num supermercado, num escritório de advogados, numa fábrica de confeções, entre outras tarefas.

Margarida Rocha também trabalhou na distribuição do pão de uma outra padeira. Apanhava o autocarro e ia de canastra à cabeça para distribuir as padas de Ul às portas, por Oliveira de Azeméis. Apesar de ser uma atividade bonita, porque conhecia muitas pessoas, com chuva tornava-se bastante difícil: “sobe escadas, desce escadas, bate à porta, espera à porta, nem o guarda chuva dava jeito, apanhavam-se valentes molhas no corpo”. “Mas, tudo se fez e tudo se faz”, expressa conformada e em forma de desabafo.

Quando iniciou o fabrico do pão trabalhava com o marido, que colaborava na distribuição. Viram no ofício uma possibilidade de trabalharem por conta própria, ganhando maior liberdade e responsabilidade na tomada de decisões. No entanto, os primeiros tempos não foram fáceis. “Tinha outro tipo de trabalho e viu-se numa situação completamente diferente.” Teve que procurar e conquistar os seus clientes dando a conhecer o seu pão, mas também manteve alguns clientes da venda que fazia nas portas por Oliveira de Azeméis.

Atualmente, Margarida Rocha vende para Oliveira de Azeméis, Santiago de Riba-Ul e Loureiro, às portas, em mercearias e supermercados. Tem clientes de longos anos que se mantêm fiéis ao seu pão. Refere que “a relação com os clientes das portas é muito familiar e todos fazem uma festa quando a veem. A amizade é cultivada de forma autêntica, as pessoas sentem carinho umas pelas outras, carecem de atenção, uma conversinha, constroem-se oportunidades e momentos para dar a conhecer as histórias familiares e de vida”.

Nesta profissão fortalecem-se as solidariedades, de tantas vezes se oferece o que existe para dar: sejam ameixas, tomates, salsa ou alfaces. “Padeira e clientes repartem o que têm e, por isso, são mais do que família. A amizade que têm por nós é muito gratificante. Sofremos imenso quando sabemos que eles não estão bem, até porque estamos todos a ficar velhotes e as mazelas vão aparecendo”.

Por curiosidade, recorda que o avô era moleiro e quando ia distribuir a farinha pelos clientes, estes enchiam-lhe sempre um saco com maçãs. E ela, pequenita, esperava a hora do avô chegar da venda para procurar o saco que trazia as maçãs. “Já nessa altura as pessoas ofereciam o que tinham.” Lembra-se bem de ajudar o avô a picar a pedra do moinho e a pôr o milho na mó. Diz com satisfação que “de moleiro a padeira há caminhos que se cruzam”.

Na verdade, o trabalho de padeira obriga a alguma rotina porque “é o hábito de fazer que faz o monge”. Coze normalmente quatro fornadas de pão que é, nos dias de hoje, distribuído pela filha “Bé”, uma vez que o marido faleceu há já alguns anos. A filha também ajuda a tender e a colocar o pão na pá sempre que é necessário. Quando ficou sozinha, a filha estava desempregada e veio apoiar a mãe, afetos que ajudaram a preencher o vazio e a fortificar os laços de união com a filha, o genro e a neta.

Faz o seu pão à mão, de forma tradicional, sem a ajuda de máquinas. Margarida Rocha começa por medir as farinhas, coloca o sal na água, desfaz o fermento em água morna e amassa todos os ingredientes. Espera o tempo necessário para a massa levedar, tende os pequenos pãezinhos e leva-os aos tabuleiros. Quando está mais frio agasalha-os com os cobertores para que não criem crosta. Enquanto aguarda para que fiquem lêvedos acende o forno, que tem de ser varrido antes de entrar o pão.

Usa madeira de compra mas o melhor pão, o mais saboroso, é cozido com a madeira do monte, onde vai com frequência à lenha. “É um trabalho duro, mas saudável”, diz. No pinhal ouve a natureza, respira um ar saudável. Aproveita também para passear os seus cães. Para além disso, a lenha do pinhal é algo que a própria natureza põe fora e que pode ser utilizada. “É um aproveitamento bom.” Como o sabor do pão vem da lenha, quando ela é apanhada diretamente do chão o pão fica mais douradinho, “com mais pés”, muito tostadinho, com um gosto diferente. “A lenha de compra faz muito lar, já a lenha do monte é muito fininha e não aquece tanto”.

Já os segredos do pão residem na massa que tem de estar lêveda, mas nem muito nem pouco. “Tem que conseguir manter-se numa boa textura”. Quanto menos fermento levar o pão, mais tempo demora a levedar. O forno também implica alguma mestria, porque tem de estar a uma temperatura certa. A padeira tem que conhecer bem o seu forno e medir o tempo de cozedura perfeito para o pão mole e para o pão tostado. No intervalo entre fornadas, é necessário reaquecer o forno, colocando algumas achas a arder. Faz normalmente quatro fornadas por dia, porque o pão sai melhor fazendo fornadas mais pequenas.

Com o pão todo cozido e na rua, é tempo de Margarida Rocha arrumar a padaria. Antes do almoço ainda gosta de se ocupar do trabalho no campo. Semeia para seu consumo: favas, ervilhas, cebolas, alhos, batatas. Arranca as ervas daninhas à mão e trata da terra, cava, apanha a poda das árvores. Cuida ainda das flores, das suas flores, de que muito gosta.

Na sua profissão, o que mais a aborrece é o horário. Levanta-se à meia-noite porque a primeira fornada sai para a rua às seis horas da madrugada e só vai descansar por volta das duas ou três da tarde. Normalmente dorme de seguida até à hora de se levantar novamente, sem preocupações relativamente ao lanche e ao jantar que não fazem parte da sua rotina. Mas ao contrário de outras profissões sabe que, se estiver doente, não há quem a substitua.

O forno só para ao domingo e durante quinze dias no mês de agosto, para reparação. No Natal e na Páscoa, quando todas as famílias se reúnem para conviver, é quando recebe o maior número de encomendas e as épocas em que mais trabalha, retirando-lhe a possibilidade de desfrutar destes bonitos momentos de festa. “É uma vida sem vida”, observa Margarida Rocha.

Tem algum receio pelo futuro da sua profissão. A lenha está a escassear e o pinheiro é uma árvore que demora muito tempo a crescer. O preço da lenha está sempre a aumentar, assim como, o preço da farinha. Já o pão é um produto essencial e também tem visto o preço a aumentar. Mas não pode, de forma alguma, acompanhar o ritmo do acréscimo dos preços da lenha e das farinhas, senão as pessoas não o compram. Por isso, o amanhã é incerto, rodeado de ameaças…

Quanto à sua filha e à neta Inês, de 10 anos, tem expetativas de que possam ter um futuro com maior realização e qualidade de vida. “São ambas muito inteligentes, determinadas e têm capacidades para construir um futuro positivo e promissor, e para ter muito sucesso”, refere com o orgulho de quem sonha e deseja o melhor do mundo para os seus.

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