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Maria Natalina Marques da Costa: "Deus te ponha a virtude que eu já te fiz o que pude, assim se acreditava que o divino cumpriria a difícil missão de fazer crescer o alimento amassado”.

Oliveira de Azeméis

Poderia ter sido uma quinta-feira como outra qualquer, não fosse o dia de visita à padeira de Ul Maria Natalina Marques da Costa, de 62 anos, natural do Baixinho, em Ul. O encontro estava marcado às 4h30 e quando chegámos, já o corrupio na padaria era grande. Os dois fornos soltavam labaredas de vermelho escaldante e a velha balança de dois pratos pesava as quantidades certas de massa, necessárias para fazer os empelos, que se transformariam logo a seguir em 30 pães, iguais na medida, pela ação da cortadora.

O trabalho de amassar já tinha sido feito a partir da primeira hora da madrugada, ainda de forma manual, “porque a massa, para ficar em condições, tem de ser pisada à mão, o grande segredo deste pão está nas mãos”, explica Natalina Costa.

A partir daqui, já a padeira não é dona do seu tempo e os pequenos pãezinhos dispõem apenas de “breves minutos de namoro nos tabuleiros, até à altura de irem casar para o forno”. A madeira usada nos tabuleiros também tem muita influência no pão de Ul, assim como o cuidado de cobrir o pão com os lençóis para ele não secar enquanto leveda.

O marido é a sua companhia, mas também o único apoio que tem na tarefa de fazer o pão. Desempenha todo um conjunto de tarefas e é o guardião do forno mais pequeno, de metro e meio, porque o grande, de três metros, é comandado por Natalina Costa que já lhe conhece bem os cantos.

O pão faz parte da sua história há pelo menos três gerações, a começar pela avó, que passou a arte à sua mãe que, por sua vez, transmitiu o ofício a Natalina Costa. Aos 11 anos de idade, quando deixou de estudar após ter terminado a quarta classe, começou a cozer o pão na padaria da mãe.

A sua infância e a dos três irmãos foi dura e passada a trabalhar para ajudar os pais, cabendo-lhes todo um conjunto de tarefas domésticas, mas também a função de apanhar lenha nos montes e de ajudar na padaria como forma de contribuir para o sustento familiar.

 “Chegava a ir à lenha catorze vezes ao dia, com o meu irmão, só que naquele tempo havia guardas que fiscalizavam os montes e se nos apanhavam, roubavam-nos o que tínhamos recolhido, por isso tivemos que fugir muitas vezes. Antes do 25 de abril os fiscais não nos largavam, inclusivamente, não se podia cozer ao domingo. Vínhamos com os molhos por aí abaixo, passávamos pelas ramadas de uvas dos vizinhos e íamos apanhando os cachos maduros, comíamos uma côdea de broa que levávamos no bolso”, lamenta Natalina Costa.

“Eram tempos difíceis e os pais obrigavam-nos a peneirar a farinha, a peneirar o rolão para os canocos, a medir as quartas e os alqueires, uma vez que as senhoras vinham comprar os farelos à quarta-feira para os animais e os sacos tinham que estar bem medidos. Comíamos os farelos da bacia quando tínhamos fome. Era essa a nossa vida, sempre a trabalhar”, desabafa Natalina Costa.

Chegou a ser gaspeadeira, aprendeu costura e ajudou a costurar vestidos de noiva e fatos de comunhão para uma modista. Trabalhou, igualmente, durante 14 anos com um moleiro da freguesia, a carregar a mula, a erguer trigo com o alqueire à cabeça, a coser os sacos de trigo, que rompiam quando os ratos os roíam, a passar a farinha pela peneira e a ir buscar comida aos montes para a mula.

Recorda-se de ser ainda jovem e ter que ir distribuir o pão para Cucujães a pé, com a canastra à cabeça carregada com 100 ou 150 padas. “Lembro-me de ir pela Ponte do Ginete que ligava Madail ao Couto de Cucujães e demorava duas horas de viagem para lá e outras duas horas para cá”, conta Natalina Costa.

A mãe também fazia a feira dos 9 e dos 23 para Vale de Cambra e não faltava aos «arraiais» das redondezas, onde vendia as regueifas de Ul. “As regueifas eram colocadas ao alto nas canastras, embrulhadas numa toalha branca de franjas, protegíamos a cabeça com uma rodilha, colocávamos o avental para guardar o dinheiro e assim íamos vender o pão para as festas”, relata Natalina Costa.

Isto no tempo em que as padeiras desenhavam na massa uma cruz e benziam o pão com uma oração, ritual que representava não só um voto de fé, como servia de controle para se saber quando a massa já estava lêveda, ou seja, pronta para ser tendida. “Deus te ponha a virtude que eu já te fiz o que pude”, assim se acreditava que a suprema divindade ajudaria na difícil missão de fazer crescer a mistura dos quatro ingredientes - água, farinha, fermento e sal - arduamente amassados.

Apenas quando casou, aos 21 anos, é que iniciou a atividade do pão de Ul por conta própria, depois de fazer obras na casa que comprou para viver após o casamento. “Era uma casa velha quando me casei, que eu reconstruí, e a primeira parte a ficar pronta foi precisamente a padaria, para eu poder trabalhar”, explica Natalina Costa.

Os seus horários vão-se ajustando de acordo com o número de encomendas recebido. Tanto se começa às duas da manhã, como à meia noite, como de véspera, às 21h30, o que é importante é ter o pão cozido às seis da manhã, para que o marido possa iniciar a distribuição. Natalina Costa só está a cozer uma vez por dia e acaba a sua tarefa de manhã bem cedo, reservando o resto do dia para as tarefas domésticas, para o quintal, para os galinheiros.

Considera-se uma pessoa resistente, mas reconhece que este horário não se ajusta a qualquer pessoa, "é uma escravidão, dá muito trabalho", refere Natalina Costa. Atualmente, tem folga ao domingo e tira alguns dias de férias em agosto, quando os fornos são arranjados. Tem um filho, que é engenheiro, que ajuda muitas vezes a mãe a vender quando o trabalho duplica e também o seu pai, com 89 anos, é assíduo na sua padaria e vai colaborando nos dias de maior azáfama.  

Atualmente, a maioria dos seus clientes são essencialmente, cafés, minimercados, mercearias e outras vendas nas freguesias de Cucujães, Travanca e em Estarreja. Natalina Costa refere que já se vende pouco pão à porta, uma vez que os mais jovens preferem o pão da padaria e dos supermercados, sempre a sair quente. 

Para vender é preciso saber cativar os clientes. “Sou brincalhona, ando sempre alegre, sempre a rir e sei dizer obrigada aos clientes que confiam em mim, da mesma maneira que sou honesta e, quando vejo que não consigo assumir os compromissos, não tomo conta”, refere Natalina Costa.

Já o pão de Ul, Natalina Costa também sabe que apresenta diferenças de padaria para padaria, porque as farinhas não são todas iguais, os fornos também não e a arte das padeiras tem as suas particularidades. Já o seu pão é feito com amor, não tem segredo nenhum, foi o dote que a mãe lhe deu e faz questão de seguir a tradição transmitida pelos seus ascendentes.

Natalina Costa conta que um dos costumes familiares que mais gosta de preservar acontece pelo São Brás. Nas festas da aldeia os seus pais sempre colocavam uma mesa no pátio de casa para o povo comer o pão quente com manteiga e ainda oferecia o vinho verde que fazia com as uvas das suas ramadas.

“A tradição dos meus pais, mantenho sempre. Dou tudo de graça. Coloco uma mesa de três metros e meio na garagem e bancos de madeira corridos, dou a manteiga e o vinho que quiserem. À noite, é preciso queimar farrapos para se irem embora. O povo gosta de nos ver a trabalhar, ficam impressionados como é que o pão é colocado ao forno de trás para a frente e retirado outra vez de trás para a frente, sem o deixar queimar e sem nos queimarmos a nós”, explica Natalina Costa.

Já as festas são um acontecimento que reúne muitos visitantes. Hoje já são poucas as padeiras que se reúnem no Largo da Igreja, porque a maioria coze e vende em casa, mesmo assim, vem muita gente de fora à procura do pão quente.

“Os mais velhos gostam de vir à eucaristia e de participar na procissão. Antigamente, o cortejo juntava as crianças da catequese e era bonito de se ver, porque os meninos iam vestidos de moleiros, com a saca da farinha ao ombro, e as meninas desfilavam de padeiras, com as saias rodadas, os aventais e com as «canastrinhas» à cabeça”.

A festa de São Brás será das mais antigas da região e é uma festa de devoção, onde as pessoas podem apresentar a sua fé e realizar as suas promessas, associadas às doenças da garganta. A procissão é feita com os andores, sai da igreja em direção ao cruzeiro e regressa, contando com o momento alto da «bênção do pão».

Para a população, é uma tradição agregadora das associações e movimentos mais representativos na aldeia e onde a crença do povo se junta em oração.

Para as padeiras, o São Brás é o pão, são muitas horas de trabalho, mas também, o proveito de saber que vale a pena dar continuidade a um dos mais antigos e representativos símbolos culturais e etnográficos da bonita aldeia de Ul.

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